Vacinas mRNA: entenda a tecnologia que rendeu o Nobel de Medicina

Bioquímica húngara Katalin Karikó tornou-se a 13ª mulher a ser premiada por descoberta que levou a vacinas eficazes contra a Covid-19

Karalin Kariko, vencedora do Prêmio Nobel de Medicina 2023 (Foto: Getty Images)
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A crise sanitária global causada pelo novo coronavírus custou muitas vidas e custaria muito mais se não fossem a dedicação e persistência da bioquímica Katalin Karikó. Ela e o imunologista norte-americano Drew Weissman conquistaram o Prêmio Nobel de Medicina de 2023 pelo trabalho pioneiro em modificar as bases nucleotídicas do RNA que levaram ao desenvolvimento de vacinas eficazes de RNA mensageiro (mRNA) contra o vírus Sars-Cov-2.

Kalalin saiu da Hungria em 1985 somente com a filha, o marido e 1,2 dólar escondido num urso de pelúcia. Passou por muitas adversidades, mas seguiu com suas pesquisas que acabaram tendo um papel chave no combate à pandemia de Covid-19. A bioquímica húngara tornou-se recentemente a a 13ª mulher a ser premiada com o Nobel de Medicina desde 1901.

Entenda a descoberta que permitiu esse reconhecimento

Em seu pronunciamento, a Academia enfatizou que eles foram fundamentais para uma mudança paradigmática sobre o entendimento de como o sistema imune interage com o mRNA por meio da vacinação. As vacinas baseadas em mRNA foram por muito tempo consideradas instáveis e seu desenvolvimento altamente complexo e desafiador, fora dos protocolos padrões de vacinação no mundo e com alto risco de causar inflamações.

Isso porque ela é baseada num material sintético que corresponde a uma determinada proteína do agente infeccioso. O corpo humano recebe um RNA mensageiro do micro-organismo e desenvolve a resposta imunológica contra ele sem ter contato algum com o patógeno.

Katalin Karikó foi fundamental nesse desenvolvimento porque, apesar desse tipo de vacinação ser pesquisada com dificuldades desde a década de 1970, ela dedicou sua vida a buscar melhoramentos para uso dessa técnica. Passou por dificuldades extremas ao se mudar da Hungria para os Estados Unidos em 1985, inclusive uma luta contra o câncer.

Quando, no entanto, uniu esforços com outro pesquisador, Drew Weissman, na Universidade da Pensilvânia, nos anos 2000, começou a pesquisa inovadora sobre todo potencial do uso do mRNA, tanto em vacinas, quanto em tratamentos de câncer e terapias proteicas.

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Como um novo tipo de vacinação impacta a nossa vida diária?

A vacinação tradicional normalmente estimula a resposta imune a um patógeno específico. Assim, as vacinas feitas com patógenos vivos atenuados ou inativados produzem os anticorpos necessários para que o corpo humano reaja em caso de exposição a esses vírus. Com o desenvolvimento da biologia molecular, partes dos vírus ou suas proteínas também passaram a servir como base das vacinas.

Mas qual é o problema nesse tipo de vacinação?

Esses protocolos tradicionais exigem culturas celulares de larga escala e de desenvolvimento lento, o que pode atrasar respostas em casos de surtos, epidemias e pandemias. Além disso, esse tipo de tecnologia não se aplica a doenças não infecciosas, como o câncer. Os pesquisadores buscavam, então, novas plataformas vacinais menos dependentes de culturas celulares e que pudessem ser usadas em mais tipos de doenças.

E qual o diferencial do mRNA?

Os dois pesquisadores conseguiram modificar a partícula do RNA de modo que ela não causasse mais inflamação já que passava despercebida pelo sistema imune. De acordo com um artigo publicado na Nature, essa nova tecnologia apresenta benefícios significativos para o ser humano.

Em primeiro lugar, a segurança. Essas vacinas não são baseadas em plataformas infeccioccas ou integrativas, ou seja, não causam infecção nem mutação em sua inserção no organismo.  Esse mRNA injetado é degradado pelo organismo. Em segundo lugar, é mais estável. E, por último, sua produção é rápida, barata e escalonável.

E sua relação com a Covid?

De acordo com estatísticas mundiais, 70,5% da população mundial já receberam pelo menos uma dose da vacina de Covid-19, mais de 13 bilhões de doses já foram administradas no mundo e quase 18 mil são administradas diariamente.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos EUA recomenda a dose anual de vacinas da Pfizer-BioNTech, Moderna ou Novavax de acordo com a faixa etária. O Yale Medicine recomenda a vacinação que seja eficaz contra a subvariante Omicron XBB.1.5 ‘Kraken’.

Quais o tipos de vacinas aprovadas hoje no Brasil?

No Brasil, o esquema vacinal é feito por faixa etária também e há uma mudança de campanha emergencial para vacinação de rotina. Das seis vacinas aprovadas hoje no Brasil, três adotam a tecnologia desenvolvida pelos vencedores do Nobel de Medicina. São elas:

Comirnaty (Pfizer/Wyeth). Tecnologia: RNA mensageiro sintético.

Comirnaty bivalente (Pfizer). Tecnologia: RNA mensageiro sintético

Coronavac (Butantan). Tecnologia: antígeno do vírus inativado.

Janssen Vaccine (Janssen-Cilag). Tecnologia: vetores de adenovírus sorotipo 26 (Ad26)

Oxford/Covishield (Fiocruz e Astrazeneca). Tecnologia: vetor adenovírus recombinante.

Spikevax bivalente. Tecnologia: RNA mensageiro sintético.

 

 

 

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